GÊNESIS 49:1-27
Este
capítulo nos apresenta a declaração de Jacó aos seus doze filhos revelando o
futuro deles “nos dias vindouros”
(literalmente “nos últimos dias” — Gn
49:1). Quando entendido de modo figurado, suas palavras apresentam uma notável
extensão da história relacionada à nação de Israel.
RÚBEN — Representa os primórdios da história
de Israel na terra de Canaã (Gn 49:3-4). Tendo recebido os privilégios de
primogênito— “força”, “vigor”, “alteza” e “poder” —
estes foram conferidos à nação. Todavia o povo, à semelhança de Rúben, não se
esmerou, mas se corrompeu moral e espiritualmente (1 Cr 5:1). Por isso o
direito e privilégio de ser a “cabeça”
das nações foram tirados de Israel e transferidos aos gentios (Dt 28:13; Dn
2:37). Isso ocorreu por ocasião do cativeiro babilônico (2 Rs 24:1-4).
SIMEÃO e LEVI — Um remanescente dos judeus foi
restaurado à terra nos dias de Esdras e Neemias, e assim como fizeram Simeão e
Levi, eles “mataram homens” (Gn 49:5-7).
Esta é uma referência ao que fizeram aos Siquemitas (Gn 34:26), mas
profeticamente aponta para a morte de Cristo (At 2:23; 3:14-15). Simeão e Levi
representam o povo e o sacerdócio se unindo nesse crime nacional que foi a
morte de Jesus. Consequentemente Deus diz “eu
os dividirei... e os espalharei”. Originalmente isto se referia ao lugar em
que seriam colocados entre as tribos de Israel (Josué 21), mas em seu sentido
profético representa sua dispersão entre os gentios.
JUDÁ — Considerando que a nação foi culpada
de crucificar seu Messias, o propósito de Deus para com a tribo de Judá, de que
reinasse como um “leão” entre as
tribos de Israel (1 Cr 5:2), foi anulado e perdeu seu efeito (Gn 49:8-10).
Todavia, “o cetro” e o “legislador” não seriam separados de
Judá até que viesse “Siló” (Cristo, o
“Homem de paz”) e este fosse
formalmente rejeitado. Isto significa que os judeus conservariam sua soberania
política na terra até depois de Cristo ter sido rejeitado. A retirada do “cetro” e do “legislador” de Judá aponta para quando os judeus, como nação, foram
colocados de lado, o que ocorreu literalmente no ano 70 D. C. quando os Romanos
destruíram a cidade de Jerusalém e deportaram o povo. Resta uma promessa que
ainda está para se cumprir: “a ele [Siló]
se congregarão os povos” (veja Zacarias 2:11). Naquele dia futuro Judá se
tornará um estado próspero (Gn 49:11-12).
ZEBULOM — Zebulom e Issacar representam os
judeus nos dias atuais, como tendo sido colocados de lado no modo de agir de
Deus. Zebulom indica que eles seriam dispersos entre as nações e assim se
entregariam ao comércio com os gentios (Gn 49:13). Isto é mostrado no que Jacó
diz sobre Zebulom, que ele habitaria “no
porto dos mares”. Os “mares” nas
Escrituras nos falam dos gentios (Ap 17:15). Além disso, Zebulom seria “como porto dos navios”. Esta é uma
referência ao comércio dos judeus com os navios mercantes que viriam a eles
para vender seus produtos.
ISSACAR — Ao longo de sua diáspora os judeus
acabaram se conformando à sua sujeição aos gentios e colocaram seu foco em
atingir seu objetivo de acumular riqueza (Gn 49:14-15). Isto está indicado na
declaração de que eles seriam um “jumento
de fortes ossos, deitado entre dois fardos”. Nessa posição degradante eles
viram “que o descanso era bom” e
aproveitaram ao máximo, servindo “debaixo
de tributo” (ou “trabalhando como
escravos”).
DÃ — Após a atual dispersão haverá um
exercício nacional entre os judeus para retornarem em massa à sua terra natal
(Is 18:1-4). Isto acontecerá durante a septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27).
Nessa ocasião se levantará um falso messias (o Anticristo) que “julgará seu povo” (Gn 49:16). Esse
homem terá ajuda satânica e se valerá dela para levar a nação à apostasia (Ap
9:1-11). Dã representa essa corrupção. Como uma “serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os
calcanhares do cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás”, o Anticristo
causará um retrocesso entre os judeus (Gn 49:17). A adoração da Besta e de sua
imagem substituirá os sacrifícios judaicos (Dn 9:27; Ap 13:11-18). Um
remanescente dentre os judeus não se curvará à idolatria por motivo de
consciência e acabará perseguido como consequência disso. Esse remanescente se
entregará ao Senhor e clamará a Ele por libertação, o que está representado nas
palavras “A tua salvação espero, ó Senhor!”
(Gn 49:18).
GADE — No final, o aflito remanescente judeu
sairá da Grande Tribulação vitorioso. A profecia de Jacó a respeito de Gade
ilustra isto (Gn 49:19). Isso acontecerá quando o Senhor vier — em Sua vinda
manifesta. O remanescente será temporariamente vencido por uma tropa de
apóstatas — “uma tropa o acometerá, mas
ele a acometerá por fim”. Isto assinala o Senhor voltando a se relacionar
com o Seu povo Israel.
ASER — Após terem experimentado a libertação,
Aser representa o fato de que o remanescente de Israel receberá sua herança, “o seu pão será gordo, e ele dará delícias
reais” — o que significa grande prosperidade (Gn 49:20).
NAFTALI — O remanescente liberto experimentará a
liberdade como “uma gazela solta” e
pronunciará “palavras formosas” de
louvor a Deus (Gn 49:21).
JOSÉ — José e Benjamim são tipos de Cristo.
José tipifica Cristo agindo em graça no Milênio e Benjamim representa Cristo
agindo em juízo naquele mesmo tempo.
Israel
restaurado será como “ramo frutífero
junto à fonte”. Seus “ramos” de
bênção correrão “sobre o muro” —
alcançando os gentios (Gn 49:22). Ainda continuará a existir o “muro” de separação entre Israel e as
nações gentias durante o reino milenial de Cristo, mas a bênção do Senhor sobre
Israel será tão grande que eles terão prazer em compartilhá-la com outros. Isso
será uma prova de que a restauração de Israel estará completa; eles já não
terão preconceito contra os gentios.
As
nações certamente “lhe deram amargura, e
o flecharam e odiaram”, mas naquele dia os exércitos de Israel serão “fortalecidos pelas mãos do Valente de Jacó”,
e eles usarão de seu poder para serem uma bênção para as nações (Gn 49:23-24).
A partir da terra de Israel, Cristo, “o Pastor
e a Pedra de Israel”, irá reinar trazendo ao mundo “bênçãos dos altos céus”. Tais bênçãos superarão as de seus
ancestrais — “as bênçãos de meus pais”
— e se estenderão ao longo do reino de mil anos de Cristo até a “extremidade dos outeiros eternos”, o
Estado Eterno (Gn 49:25-26). Bênçãos são mencionadas seis vezes em conexão com
José.
BENJAMIM — No dia milenial ainda haverá juízo
sendo executado (Gn 49:27). Nessa época, como “lobo que despedaça”, o Senhor virá sobre os que se rebelarem
contra a justiça (Is 32:1; Sl 101:8).
Temos
assim, na profecia de Jacó a respeito de seus filhos, previsões de toda a
história de Israel quando a interpretamos na forma de tipos. E mais uma vez
podemos ver que a nação seria colocada de lado em um tempo quando seria
dispersa entre os gentios e, depois de algum tempo, haveria uma retomada da conexão
do Senhor com eles para introduzi-los nas bênçãos prometidas do reino.
Existem
muitas outras profecias no Antigo Testamento que falam das tratativas passadas
e futuras do Senhor com Israel, porém elas não indicam um rompimento entre o
passado e o futuro. Todavia, quando essas profecias são interpretadas à luz das
profecias que acabamos de considerar, fica claro que haveria uma suspensão em
certo momento das tratativas de Deus com Israel. Algumas destas passagens são
Salmo 110:1-7; Isaías 42:1-9; Isaías 49:3-6; Daniel 7-8; Daniel 8:22-25;
11:35-36; Oséias 2 e Zacarias 9:9-11. Interpretar estas profecias levando em
consideração tal interrupção de modo algum compromete o estudo destas
passagens.