“A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?” por Bruce Anstey

ESTER

O livro de Ester começa com Israel vivendo em uma terra estrangeira como consequência do juízo de Deus sobre eles. Isso tipifica Deus colocando de lado os judeus após terem rejeitado e crucificado o Senhor Jesus Cristo.

O rei Assuero, que governava sobre o mundo de então “desde a Índia até Etiópia” (Et 1:1) é uma figura de Deus que governa sobre o mundo inteiro a partir dos bastidores (Dn 4:17).

O primeiro capítulo, portanto, nos dá uma imagem do que Deus está fazendo hoje no tempo em que Israel foi colocado de lado. O rei Assuero (tipificando Deus) fez “um banquete a todos... desde o maior até ao menor” (Et 1:1-5). Isso é uma figura da grande festa que Deus tem provido para toda a humanidade no evangelho de Sua graça (Lc 14:16). O objetivo da festa de Assuero era “mostrar as riquezas da glória do seu reino, e o esplendor da sua excelente grandeza”. Do mesmo modo o evangelho nos fala da glória de Deus e das “abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.” (Ef 2:7-8). Assim como a festa de Assuero durou “por muitos dias”, Deus tem estendido o convite para Sua festa por muitos dias — cerca de dois mil anos até agora! Os convidados que aceitaram o convite do rei Assuero e foram à sua festa foram chamados de “nobres e príncipes”. De igual modo, aqueles que aceitam o convite de Deus para o banquete do evangelho são igualmente feitos “reis e sacerdotes” (Ap 1:6).

Durante a festa o rei proveu “leitos de ouro e de prata” para os convidados descansarem (Et 1:6-8). A prata e o ouro nas Escrituras são símbolos de redenção e justiça divina. Essas coisas dão ao crente um lugar de descanso na salvação e, consequentemente, ele tem paz com Deus e descanso em sua alma (Mt 11:28). Na festa havia também lindos “pendentes” coloridos para o deleite dos convidados. Eles ficavam suspensos do alto por “argolas de prata” e eram uma figura das bênçãos celestiais dos cristãos, que são suas através da redenção (Ef 1:3). Além do mais, o rei serviu aos convidados “muito vinho real”. Isso nos fala do gozo que Deus dá àqueles que recebem e creem no evangelho de Sua graça (Jz 9:13; Sl 104:15; 1 Ts 1:6).

A rainha gentia “Vasti”, que desfrutava de um lugar muito privilegiado no reino por estar associada publicamente ao rei, foi também convidada para a festa. Seu papel seria contribuir para a glória do rei exibindo ao povo a sua beleza. Mas quando ela foi chamada, “recusou vir”, pois seu coração estava cheio de orgulho e rebeldia (Et 1:9-12). Ela gostava da posição que tinha de estar publicamente associada ao rei, mas não queria nada com sua festa. Vasti é uma figura da Igreja professa, que foi exteriormente identificada com Deus diante do mundo, porém sem possuir uma fé genuína (Ap 18:7).

No último dia da festa (Et 1:5, 10) a rebeldia de Vasti atingiu o ponto máximo e por causa de sua desobediência e por se negar a se apresentar de uma maneira que pudesse glorificar o rei, ela foi destituída de seu lugar como rainha (Et 1:13-22). Isso é um prenúncio do que irá acontecer à cristandade professa e apóstata no final do Dia da Graça. Quando o Senhor vier (no Arrebatamento) Ele irá destituir publicamente a cristandade ao deixar para trás aqueles que eram meros professos. Ele irá “cuspir” a coisa toda de Sua boca (Ap 3:16). Assim a cristandade será “cortada” e deixada de lado nas tratativas de Deus (Rm 11:17-22). Do mesmo modo como Vasti experimentou “o furor do rei Assuero” (Et 2:1), a cristandade apóstata será julgada por Deus na Manifestação de Cristo.

O exercício no capítulo 2 de Ester é o de encontrar alguém para ficar no lugar de Vasti. No processo de se buscar uma que pudesse assumir esse lugar é que Ester entra em cena (Et 2:1-7). Ela é uma figura do remanescente judeu que irá se tornar o foco da atenção de Deus depois que a falsa Igreja tiver sido julgada. Isso indica a retomada das tratativas de Deus para com Israel. Por ser órfã, Ester não tinha qualquer suporte neste mundo, e isso descreve muito bem o caráter necessitado dos judeus durante os longos anos de sua diáspora. Eles estarão totalmente privados de Deus. Ester havia sido adotada e criada por Mardoqueu, seu primo. Ele é um tipo de Cristo, que irá cuidar providencialmente do remanescente judeu.

 Antes que Ester pudesse ser introduzida num relacionamento com o rei ela precisava passar por uma purificação (Et 2:8-14). Isso nos fala dos exercícios pelos quais o remanescente judeu terá de passar durante a Grande Tribulação. Durante aquele período eles serão purificados e tornados aptos para receber seu Rei (Dn 12:10; Ml 3:2-4; Zc 13:9). Durante o tempo da purificação de Ester, Mardoqueu não se comunicou abertamente com ela porque seus dias de purificação ainda não tinham terminado. Todavia, ele mantinha grande interesse nela e passava todos os dias pelo lugar onde ela estava para saber a respeito dela. Do mesmo modo, durante a Grande Tribulação, Cristo não se comunicará diretamente com o remanescente judeu, mas irá observar seu progresso com grande interesse (Is 8:17; 18:4; 54:8; Ct 5:6; Gn 42:7; 23-24; 43:30). Ele fará isso até que a obra de arrependimento e purificação tenha sido completada no remanescente, quando então Ele Se revelará a eles (Gn 45).

No capítulo 3 o rei Assuero promoveu no reino a Hamã, o agagita, e deu a ele “um assento acima de todos os príncipes”. Hamã, que era um adversário dos judeus, é um tipo do Anticristo. Sua promoção no reino prenuncia o tempo quando Deus irá permitir que o Anticristo venha a alcançar um lugar de proeminência e poder na terra. Hamã usava de sua posição para sua própria exaltação e exigia que todos se prostrassem diante dele em reverência. Do mesmo modo o Anticristo irá exigir a adoração de todos (2 Ts 2:3-4). Todavia, Mardoqueu se recusava a prostrar-se diante de Hamã (Et 3:2). Isso trouxe à tona o ódio de Hamã, e ele decidiu “destruir a todos os judeus, o povo de Mardoqueu, que havia em todo o reino de Assuero” (Et 3:5-15). Isso é um prenúncio da terrível perseguição que o Anticristo irá promover na Grande Tribulação em seus esforços para exterminar os judeus tementes a Deus. Hamã tinha dez filhos que aparentemente lhe ajudavam em sua causa (Et 5:11, 14; 9:7-10). Eles são, talvez, um tipo da confederação de dez nações da Europa Ocidental chamada “a Besta”, que irá ajudar o Anticristo a colocar em prática sua perseguição contra o remanescente fiel. O rei deu a Hamã seu “anel”, autorizando-o a levar adiante seu plano maligno (Et 3:10). Isso nos fala de Deus permitindo que o Anticristo promova sua perseguição do remanescente por um tempo determinado. Ele fará assim para testar a realidade da fé do remanescente e aperfeiçoar Sua obra neles.

No capítulo 4, por causa dos ímpios desígnios de Hamã, a vida dos judeus estava em grande risco. Isso produziu muito pranto e lamento em cada província o império (Et 4:1-3). Trata-se de uma figura da tristeza e profundo exercício de alma que o remanescente judeu experimentará durante a Grande Tribulação. Mardoqueu também “vestiu-se de saco e de cinza, e saiu pelo meio da cidade, e clamou com grande e amargo clamor”. Isso ilustra os sentimentos de Cristo. Ele irá sentir a mais profunda simpatia por todos daquele remanescente que irão passar pelo período de tribulação (Is 63:9). O livro dos Salmos ilustra particularmente os sofrimentos de Cristo em Sua empatia para com o remanescente.

Sentindo o terrível apuro de seu povo, Ester é encorajada a “que fosse ter com o rei, e lhe pedisse e suplicasse na sua presença pelo seu povo” (Et 4:4-9). Todavia, isso era algo que ela nunca tinha feito antes e temia fazer, pois ninguém podia se aproximar da presença do rei de vontade própria sem ser condenada à morte. Todavia, a lei Persa permitia que o rei estendesse o “cetro de ouro” para a pessoa, o que representa a graça divina, de modo que essa pessoa pudesse viver e não morrer. Isso nos fala da divina graça sendo estendida ao homem (Et 4:10-11). Mardoqueu falou a Ester (por intermédio de “Hatá”) e insistiu com ela para que se aproximasse do rei, pois esse era o único meio de livramento de seu povo (Et 4:12-14). Então, após muita oração e jejum, Ester decidiu se dirigir ao rei (Et 4:15-17). De igual maneira o remanescente, depois de um grande exercício de alma, irá se aproximar de Deus pela fé.

No capítulo 5 Ester se aproximou do rei “ao terceiro dia”. Isso é uma figura o remanescente judeu, quebrantado e aflito, se aproximando de Deus em oração e súplicas, e obtendo graça em um tempo de grande tribulação. É notável que isso tenha acontecido no terceiro dia. O número três, nas Escrituras, fala de ressurreição (Jn 1:17; 2:10; Mt 12:40; Hb 11:19), e aponta como figura para a ressurreição nacional de Israel (Dn 12:1-2; Ez 37). Nessa ocasião Deus irá intervir a favor do remanescente judeu e trazer livramento a eles (Os 6:2).

No capítulo 6 o rei viu que era a hora de exaltar publicamente a Mardoqueu e exibi-lo diante de todo o povo em “veste real” e portando a “coroa real”. Isso é uma figura do que acontecerá na Manifestação de Cristo: Deus irá exaltá-Lo publicamente e exibi-Lo diante do mundo na glória do Seu reino (2 Ts 1:10).

No capítulo 7 o plano maligno de Hamã foi descoberto e ele foi executado. Isso nos fala do Anticristo que será removido de repente de seu posto e destruído quando Cristo vier (Ap 19:20).

No capítulo 8 a casa de Hamã (sua propriedade) foi dada a Ester e ela, por gratidão, entregou tudo a Mardoqueu. Isso é uma figura dos judeus naquele dia entregando a Cristo o lugar que pertence a Ele por direito (Sl 110:3). Então “tirou o rei o seu anel, que tinha tomado de Hamã e o deu a Mardoqueu.” (Et 8:2). Isso nos fala de Deus dando a Cristo aquele lugar de governo e autoridade na terra que o Anticristo havia usurpado. Compare com Isaías 22:15-25. “Então Mardoqueu saiu da presença do rei com veste real azul-celeste e branco, como também com uma grande coroa de ouro, e com uma capa de linho fino e púrpura” (Et 8:15). Isso é uma figura de Cristo em sua glória oficial do reino. Como consequência os judeus tiveram “alegria, e gozo, e honra”, e isso, evidentemente, se refere ao gozo do remanescente no dia de seu livramento (Et 8:16-17). Nessa ocasião “muitos, dos povos da terra, se fizeram judeus”. De igual maneira, no futuro Milênio “muitas nações se ajuntarão ao Senhor” (Zc 2:11; 8:23; Sl 47:9).

No capítulo 9 Mardoqueu instituiu uma “festa” (chamada “Purim”) na qual os judeus “descansaram” em todas as províncias do reino. Eles trocaram presentes uns com os outros e tiveram grande alegria, jejuaram e se regozijaram. Isso nos fala do descanso milenial que prevalecerá naquele dia na terra.

No capitulo 10 “impôs o rei Assuero tributo sobre a terra, e sobre as ilhas do mar” (Et 10:1). Isso nos fala de todas as nações sendo tributárias de Israel (Is 60:5-6, 16; 61:6; Sl 72:10). Nessa ocasião o rei fez “o relato da grandeza de Mardoqueu” (Et 10:2). Isso se refere à exaltação universal de Cristo. Mardoqueu passou o restante de seus dias “procurando o bem do seu povo, e proclamando a prosperidade de toda a sua descendência” (Et 10:3). Isso nos fala e Cristo devotando Suas energias para a bênção de todos em Seu reino milenial.

O ponto que não queremos deixar passar ao considerarmos estes detalhes é o das figuras que são típicas das mudanças dispensacionais nos desígnios de Deus. Elas começam com Israel como tendo sido colocado de lado por causa de sua infidelidade (Et 1:1-2), e Deus (Assuero) buscando então o favorecimento dos gentios (Et 1:3-9). Quando a cristandade (Vasti) fracassa (Et 1:10-22), Deus passa a lidar com os judeus e levanta deles um remanescente (Ester) para usufruir das bênçãos do reino — embora sejam prejudicados por um curto período de tempo pelo estratagema de Hamã (o Anticristo) (Et 2-10).



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