“A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?” por Bruce Anstey

DEUTERONOMIO 18:15-19:13

Esta passagem tem a ver com o homicida e as cidades de refúgio. Todavia, ela não começa falando deles, mas começa no versículo 15 do capítulo 18 com a promessa de Deus levantar “um Profeta” no meio da nação de Israel (Dt 18:15-22). Esse Profeta é o Senhor Jesus Cristo (Lc 7:16; Jo 1:21; 6:14; At 3:23; 7:37). É dada grande ênfase às “palavras” de Deus como estando “em Sua boca” (Jo 7:16-17; 8:47; 17:8) e na necessidade que o povo tem de recebê-las.

Então, no capítulo 19, o assunto muda: somos apresentados à provisão que Deus fez para o Seu povo no caso de um homem matar acidentalmente outro. Isso foi dado a Israel tendo como figura do homicídio de Cristo. Havia “três cidades” a oeste do Rio Jordão (Dt 19:2) e “três cidades” a leste (Dt 19:3), indicadas como lugares de refúgio para onde um homicida poderia fugir e ficar protegido. Essas cidades são uma figura da provisão que Deus fez para os judeus que mataram a Cristo. As seis cidades de refúgio são uma figura dos seis aspectos da segurança que o evangelho anuncia em Cristo. Cada cidade nos fala de um diferente aspecto da bênção que temos em Cristo.

Uma estrada bem definida, “o caminho” (Dt 19:3), devia ser preparado para cada cidade a fim de que o homicida pudesse alcançá-la em segurança. Além disso, cada cidade ficava situada numa colina para que o lugar de refúgio pudesse ser facilmente visto por todos (Js 20:7-8). O fato de o homicida ter de “fugir” (Js 20:3) indica que havia um elemento de urgência envolvido nisso. Se um homicida atrasasse sua fuga, “o vingador do sangue” (Dt 19:6) poderia alcançá-lo. Isso aponta para o fato de que aqueles que entendessem sua culpa na morte de Cristo (isto é, os judeus arrependidos) deviam imediatamente se valer da salvação disponível no Cristo ressuscitado antes que o julgamento caísse sobre aquela nação culpada (Hb 2:3). Nos primeiros capítulos do Livro de Atos, Pedro e os outros apóstolos indicavam ao povo judeu o caminho da salvação como um antítipo das cidades de refúgio — Cristo na glória (At 2-7). Um remanescente de judeus creu na mensagem e fugiu refugiar-se em Cristo, que havia entrado nos céus como o “precursor” (At 2:21, 41; 4:4; 5:14; Hb 6:19-20).

Havia apenas uma condição que o homicida precisava cumprir a fim de garantir seu refúgio — ele precisava ter matado o outro “por engano” (Dt 19:4). Na lei não havia misericórdia para aqueles que pecassem intencionalmente (Dt 19:11-13; Nm 15:30-31; Hb 10:28). Isso cria um enorme problema para os judeus, pois eles mataram a Cristo sabendo exatamente quem Ele era. Eles disseram “Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo.” (Mt 21:37-39). Eles até chegaram ao ponto de lançarem sobre si mesmos uma maldição assumindo completa responsabilidade por Sua morte, quando disseram: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” (Mt 27:25). Todavia, nas instruções da lei concernentes aos votos ou promessas, havia uma provisão para a anulação e votos feitos de modo inconsequente (Nm 30). Uma mulher que fizesse um voto poderia ter seu marido ou pai anulando seu voto, se este o fizesse no dia em que ouvisse do voto. Uma mulher nas Escrituras frequentemente tipifica o povo do Senhor — seja Israel (Ez 16), seja a Igreja (Ef 5:31-32). Neste caso, os judeus estavam exteriormente nesse tipo de relacionamento com o Senhor (apesar de alheios a Ele naquela ocasião), e Ele, portanto, tinha o poder de anular o voto deles no dia em que soube de seu voto. O Senhor fez exatamente isso quando foi pregado na cruz, ao dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23:34). Naquela declaração o Senhor transformou o arrogante pecado deles em um pecado de ignorância, e isso abriu a porta para que eles pudessem ser perdoados (Lv 4:2; Nm 30:8).

Pedro mencionou isso em sua pregação aos judeus, quando disse: “Irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes.” (At 3:17). Ele prosseguiu dizendo aos judeus que seus pecados seriam “apagados” se eles se arrependessem e fossem a Cristo pela fé (At 3:19). Em suma, ele estava indicando a eles o antítipo das cidades de refúgio. A porta para a segurança tinha sido escancarada para aquela nação culpada. Mas ainda assim é bem solene vermos que havia um preço a ser pago pelo homem que anulasse o voto da mulher, pois diz que “ele levará a iniquidade dela” (Nm 30:15). Ela podia ser perdoada, porém ele precisaria pagar o preço desse perdão. Isso aponta em figura para os sofrimentos expiatórios de Cristo, que pagou o preço para que os judeus fossem perdoados. As Escrituras dizem: “O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos... pela transgressão do meu povo ele foi atingido.” (Is 53:6, 8; 1 Pe 2:24).

O significado de cada cidade indica algum aspecto de bênção espiritual que o crente tem em Cristo:

  • “Quedes” ou “Quedesh” significa “santidade”. O crente é visto como tendo sido lavado e feito santo aos olhos de Deus (Ef 1:4; Cl 1:22).
  • “Siquém” significa “ombro”. Isto nos fala da eterna segurança do crente em Cristo (Jo 10:28-29).
  • “Hebrom” sinifica “comunhão”. Isto nos fala do relacionamento e comunhão com Deus nos quais o crente é introduzido (1 Jo 1:3-4).
  • “Bezer” significa “baluarte”. Isto nos fala da proteção que o crente possui na armadura de Deus, pela qual fica protegido dos ataques espirituais do inimigo (Ef 6:10-17).
  • “Ramote” significa “lugares elevados”. Isto nos fala de nossa posição de aceitação em Cristo nas alturas (E 2:6).
  • “Golã” significa “regozijo”. Isto nos fala do gozo e alegria que o crente tem em Cristo (1 Pe 1:8).
Os versículos 11 ao 13 de Deuteronômio 19 indicam que se o homicídio tivesse sido deliberado, constituindo-se em assassinato, não haveria perdão para o culpado. Ali diz: “Mas, havendo alguém que odeia a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere mortalmente, e se acolhe a alguma destas cidades, então os anciãos da sua cidade mandarão buscá-lo; e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do sangue, para que morra.”. Isso se refere à parte da nação que não iria a Cristo e acabaria assumindo sua culpa da morte dele. Ao se recusarem a aceitar o perdão disponível para o homicida — quer eles tenham entendido isso, quer não — eles estavam assumindo a posição de assassinos de Cristo. Para eles não haveria misericórdia. O voto que a nação fez muitos anos antes continuaria valendo (Mt 27:25); para eles só restaria o juízo (Sl 69:22-28).

Esta figura não vai tão longe ao ponto da retomada das tratativas de Deus com Israel no futuro, mas ao menos demonstra como Israel foi colocado de lado e a introdução de algo novo em Cristo — a Igreja.




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