“A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?” por Bruce Anstey

MATEUS 10-13

Capítulo 10 -- Os últimos dois versículos do capítulo 9 pertencem ao assunto deste capítulo. Nos capítulos 8 a 9, após demonstrar “as virtudes do século futuro” (Hb 6:5), que provavam que o Senhor tinha o poder de introduzir o reino conforme previram os profetas do Antigo Testamento, Ele assumiu o Seu lugar de direito como o “Senhor da Seara” (cap. 9:38). Agindo como Administrador da convocação do reino, Ele enviou os Seus arautos (os doze apóstolos) para anunciarem que o Rei estava presente. Se o povo O recebesse Ele introduziria o reino de acordo com as profecias dos Profetas.

O capítulo 11 apresenta os resultados do anúncio do Rei à nação. Ele mostra que a mensagem não foi recebida pelo povo e, por isso, o Senhor foi rejeitado. Eles não O queriam como seu Messias e Rei. Isto é visto no fato de que eles não quiseram receber o ministério de João, o qual apresentava Cristo à nação (João 1:6-9, 29, 35), nem tampouco receberam o ministério do Senhor e de Seus apóstolos (cap. 11:1-19). Consequentemente, o Senhor pronunciou um juízo sobre a nação, e especialmente sobre aqueles que tiveram a oportunidade de testemunhar da maior parte dos milagres feitos entre eles -- “Corazim”, “Betsaida” e “Cafarnaum” (cap. 11:20-24). O Senhor aceitou Sua rejeição como vinda de Seu Pai, que está acima de todas as coisas, e disse: “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve” (cap. 11:25-27). Ele então chamou um remanescente de crentes para fora da massa de incrédulos com a intenção de guiá-los a algo completamente novo nos desígnios de Deus, o que estava prestes a ter início. Ele disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (cap. 11:28-30). Ele não estava dizendo isso a incrédulos que precisavam ser convertidos (como os evangelistas costumam tomar a liberdade de usar a passagem na pregação do evangelho), mas a crentes fiéis na antiga dispensação que estavam sobrecarregados por tentarem guardar todas as determinações da Lei e as tradições dos patriarcas. Eles eram encorajados a seguir o Senhor na senda da fé tomando sobre eles o Seu “jugo” (os novos princípios do reino), por meio do qual encontrariam “alívio” ou “descanso” do fardo que era guardar a Lei.

Nos capítulos 12-13 o Senhor é visto rompendo Suas ligações com a nação. Isto está indicado por uma série de afirmações e ações simbólicas. Neste ponto do Evangelho de Mateus o Espírito de Deus reúne determinados eventos para demonstrar a mudança que estava ocorrendo nos desígnios dispensacionais de Deus. Algumas coisas são mencionadas para indicar o inevitável rompimento das tratativas do Senhor para com Israel e o início de sua ação em alcançar os gentios.

Existem doze indicadores que apontam para esta mudança dispensacional:

Primeiro, são apresentados dois incidentes nos quais o Senhor parecia violar a Lei do Sábado (cap. 12:1-13). Na verdade os judeus haviam interpretado Seus atos como transgressão da Lei, quando na realidade o que havia sido violado eram apenas as tradições dos Fariseus. Não existe qualquer passagem das Escrituras qualquer coisa que proíba pessoas famintas de arrancarem algumas espigas de trigo e comê-las no Sábado, e nem na Lei havia qualquer coisa contra executar atos de misericórdia no Sábado. Ao violar as tradições dos Fariseus relacionadas ao Sábado (as quais os judeus consideravam mais importantes que a Lei), o Senhor estava indicando que o Seu vínculo com a nação estava rompido, vínculo este do qual a Lei era o selo. (Êx 31:16-17).

Ao responder a crítica dos Fariseus o Senhor apontou para a ocasião quando os homens de Davi estavam famintos e o sacerdote deu de comer a eles o “pão sagrado” (1 Sm 21:1-6). O sacerdote agiu assim porque quando eles chegaram era hora de substituir o pão, e tendo em vista o fato de que o pão novo estava santificado “nos vasos” e pronto para ser colocado no forno, enquanto o pão velho já era considerado “pão comum”. O ato de tirar o pão velho representava o fim da velha ordem sob o rei Saul; sua substituição pelo pão novo apontava para a nova ordem que viria com Davi. Já que Davi, o rei ungido de Deus, foi rejeitado, as reivindicações da Lei concernentes às coisas santas tinham “de algum modo” caducado. Isto tem um significado na forma de tipos. As coisas em Israel dos dias do Senhor também passavam por uma transição. O Senhor usou este incidente para ilustrar que, uma vez que Ele, “o Filho do Homem” (título que Ele assume em Sua rejeição) que “até do sábado é Senhor”, fora rejeitado, as reivindicações do Sábado já não valiam.

A segunda coisa que indicava que o Senhor estava rompendo Suas ligações com Israel é que a partir deste capítulo Ele Se afasta do povo várias vezes. Nestes capítulos transicionais do Evangelho vemos várias vezes algo como: “E, partindo dali...” ou “retirou-se dali” (cap. 12:9, 15: 13:1, 53; 14:13; 15:21, 29; 16:4 etc.).

Um terceiro indicador é que o Senhor passava a “recomendava-lhes [aos discípulos] rigorosamente que o não descobrissem” ou revelassem que Ele era o Messias de Israel (cap. 12:16; 16:20; 17:9 etc.). Ele indicava assim que cancelaria a comissão que havia sido dada a eles para convocar Israel para o reino. (Isto não ocorreu realmente até Estêvão ter sido apedrejado pelos líderes da nação em Atos 7). Ao fazer isso o Espírito de Deus cita Isaías 42:1-3 como um anúncio formal de que a “voz” já não seria ouvida “pelas ruas” (cap. 12:14-21). Isto significa que a pregação e apresentação pública do reino já não seriam mais oferecidas à nação; tal missão estava sendo encerrada. A citação de Isaías 42 acrescenta: “até que ponha na terra a justiça; e as ilhas [gentios] aguardarão a Sua lei”. Isto demonstra que o cessar da apresentação do reino a Israel não seria final, mas ficaria postergado “até” outra ocasião.

A quarta coisa é que a narrativa do Evangelho de Mateus já não afirma que “é chegado o reino dos céus” como tinha sido nos capítulos anteriores (cap. 3:2; 4:17; 10:7). A expressão “o reino dos céus” continua sendo usada, mas já não diz que “é chegado”.

O quinto indicador de que o assunto estava encerrado para a nação (ao menos temporariamente) é que os líderes responsáveis em Jerusalém atribuíram o ministério do Senhor a Satanás, selando assim sua própria perdição (cap. 12:22-37). Com isso eles estavam pedindo que fosse lançado juízo sobre eles. O espírito que levou a nação a crucificar o Senhor fica evidente nas acusações dos Fariseus. O Senhor declarou que o pecado deles era uma “blasfêmia contra o Espírito”. Algo assim não poderia ser perdoado — nem naquela geração e nem na geração vindoura. Portanto, o juízo teria de cair sobre a nação.

Uma sexta coisa que demonstra que o Senhor havia encerrado sua missão de apresentar o reino a Israel naquela ocasião é vista em Sua recusa de dar aos escribas e Fariseus (os líderes) quaisquer “sinais” adicionais de que Ele era o Messias, e isto por causa da incredulidade deles (cap. 12:38-45). Exigir outro sinal quando tantos sinais já haviam sido dados era claramente um insulto à demonstração das “as virtudes do século futuro” (Hb 6:5) que Ele lhes tinha dado. Implicava que faltaria a Ele as credenciais de Messias. Assim, depois da cura do homem com a mão mirrada (cap. 12:10-13), vemos claramente um fim nos milagres que haviam sido feitos diante da porção responsável da nação. O Senhor retirou-se para as regiões além da Galileia e continuou a fazer milagres ali, pois as pessoas naquela área ainda não O tinham rejeitado formalmente (cap. 14:15-21; 15:21-39; 17:14-21).

Uma sétima evidência de que o Senhor iria encerrar suas conexões com a nação é vista em Sua recusa em atender aos pedidos de “Sua mãe e Seus irmãos” (cap. 12:46-50). Ele já não iria reconhecer Seus vínculos naturais. Isto significava o rompimento de Suas ligações naturais e de seu relacionamento com a nação — inclusive com os membros de Sua própria família.

No capítulo 13 há uma oitava evidência. O Senhor levantou-se e saiu “da casa” (vers. 1). Esta foi mais uma ação simbólica demonstrando que as conexões exteriores que tinha com a nação seriam rompidas. Ele assumiu uma nova posição assentando-se “junto ao mar” (compare com Atos 10:6), o que representa Suas intenções de alcançar os Gentios nesta nova empreitada nos caminhos de Deus.

A nona evidência é que haveria uma nova seara cultivada na lavoura de Deus pelo semear da “semente” da Palavra de Deus nos corações dos homens (Lucas 8:11), por meio da qual haveria fruto para Deus (cap. 13:1-9, 19-23). Portanto, Ele já não buscaria fruto na seara de Deus segundo a antiga ordem de Israel.

A décima evidência é vista no fato de o Senhor ter adotado um novo método de ensino em Seu ministério (cap. 13:10-17). Deste ponto em diante no Evangelho de Mateus Ele usa “parábolas”. Antes disso Ele não usava, mas falava claramente ao povo. Todavia, após ser rejeitado Ele adota este novo método de ensino. O uso de parábolas não era para ajudar as massas a entenderem a verdade, mas tratava-se de uma ação governamental visando esconder a verdade delas por causa de sua incredulidade.  Mas ao mesmo tempo seria dado conhecer a verdade àqueles que tinham fé (os discípulos). Eles entenderiam o significado das parábolas. É feita citação de Isaías 6:9 para confirmar que Deus tiraria dos judeus a verdade, pois eles “fecharam seus olhos” em incredulidade.

A décima primeira evidência é que “o reino dos céus” ganharia um novo significado. A partir de então ele teria um lado místico (cap. 13:11). Os “mistérios” concernentes ao reino seriam explicados aos discípulos nas parábolas que se seguiriam falando do reino (cap. 13:24-30, 31-32, 33, 44, 45-46, 47-50; 18:23-35; 20:1-16; 22:1-14; 25:1-13). Estas dez parábolas tem sido chamadas de “similitudes” do reino, pois todas começam com a frase: “O reino dos céus é semelhante a...”.

A décima segunda evidência de que a nova dispensação estava chegando é que novas revelações seriam feitas em conexão à nova fase do reino em mistério. Algumas coisas que tinham sido deixadas secretas desde a fundação do mundo seriam agora descortinadas (cap. 13:35).

* * * * *

Como já foi mencionado, o Espírito de Deus escreveu o Evangelho de Mateus com estas imagens dispensacionais entretecidas no texto para ilustrar a transição (do judaísmo para o cristianismo) que, segundo os desígnios de Deus, estaria chegando após a morte e ressurreição do Senhor. A nova rejeição é registrada no Livro de Atos dos capítulos 8 ao 28 e continua nos dias de hoje. Ela é prefigurada no ministério do Senhor em Mateus 13. O Senhor voltaria ao céu, passando pela cruz, e a responsabilidade do “reino dos céus” seria dada aos homens. Considerando que se tratava de uma ordem de coisas totalmente nova, ela necessitava de alguma explicação adicional. Portanto, a partir do capítulo 13 em diante o Senhor ensina os discípulos acerca das novas características do reino dos céus nas parábolas chamadas de “similitudes”.

Nas três primeiras similitudes no capítulo 13:18-33 o Senhor mostra que quando o evangelho fosse levado, como tem sido feito no período atual, haveria uma mistura de pessoas que seriam introduzidas no reino — algumas seriam crentes reais, mas outras meros professos. Estas parábolas enfatizam o que Satanás está fazendo para anular a obra de Deus no evangelho por meio da introdução de pessoas (“joio”), espíritos malignos (“aves do céu”) e más doutrinas (“fermento”).

As três similitudes seguintes (vers. 44-50) identificam o que Deus está fazendo no reino apesar do trabalho de Satanás. Ele está assegurando um “tesouro”, uma “pérola de grande valor” e peixes “bons”. Estas coisas se referem àqueles que compõem a Igreja.

As quatro últimas similitudes no Evangelho (cap. 18; 20; 22; 25) enfatizam que o que nós deveríamos estar fazendo no reino. Deveríamos ser cuidadosos em conservar um estado de espírito correto em relação ao Senhor e a nossos irmãos temendo o juízo governamental de Deus (Mt 18:23-35). Deveríamos estar servindo na vinha do Senhor sem competição, ciúme ou queixa (Mt 10:1-16). Deveríamos estar espalhando o evangelho por todo o mundo (Mt 22:1-14). E deveríamos estar esperando pela volta iminente do Senhor (Mt 25:1-13).

Estas similitudes descrevem coisas que se sucederiam no reino durante o período da ausência do Senhor, até o momento em que Ele voltaria (a Manifestação) na “consumação do século” (Mt 13:37-43). Todavia, essas coisas não chegam longe o suficiente para contemplarem “o século futuro” — o Milênio — quando estará em vigor a “dispensação da plenitude dos tempos”. Todavia, estas imagens projetam o fato de que existiria uma mudança dispensacional no modo de Deus agir, passando da Lei para a Graça.



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